segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ressurgir, e surgir.

Em primeiro lugar eu queria dizer que existem coisas que podem chocar as pessoas, quando escrevo sobre mim e as pessoas me perguntam se de fato eu escrevo algo relacionado a mim ou simplesmente imagino um texto real. Não consigo ser tão sincera quanto quando eu escrevo, por tanto amar e me dedicar a esses textos que fica difícil acreditar que exista tanta dor em um sorriso.

Foi muito difícil pra mim essa ascensão no mundo (como eu imagino que seja pra maioria das pessoas), eu nunca me distanciei muito dos rótulos referentes ao meu gênero e sexo. Sempre fui "menina", mas com um toque "moleque" e por mais que hoje não faça mais sentido usar essas nomenclaturas para definir gênero eu ainda as mantenho para que seja de fácil compreensão. Com dez anos de idade eu me recordo ter tido a minha primeira boa impressão por uma menina, um carinho sem igual que de amiga para amiga passava dos limites do que era real, mas eu nunca dei muita bola, afinal era normal. Cada vez eu me sentia mais desprendida desse destino feminino que seria: Namorar, noivar, casar, aprender a cozinhar, ter filhos, lavar a louça a casa a roupa e o maridão no trabalho. Eu sentia que não era bem isso que eu queria para minha vida, nem no sentido de gênero (pelo fato de ser um homem) e nem pelo sentido de associar a figura da mulher a uma empregada doméstica só pelo fato de ser mulher (acho que vocês entenderam o que eu quis dizer).
Logo que a adolescência foi chegando ficou cada vez mais difícil me gostar, eu sentia que meu corpo não fazia parte de nenhum dos padrões que me eram apresentados. A pressão dentro de casa me obrigou por muitos anos me submeter a regimes loucos com a intenção de alcançar aquele padrão que na maioria das vezes era comparativo "Você viu a sua prima, ela é magra e agora os meninos estão começando a reparar nela, ninguém repara em uma menina gorda", um comentário cruel demais pra acontecer dentro de uma casa e para uma menina de 13 anos que mal tinha parado de acreditar em contos de fadas. A dura ditadura da beleza fez que eu me rendesse e então deprimir-se diante de tudo aquilo, num estado de depressão caótico eu me vi em uma situação desesperadora onde eu faria de tudo para ser magra. Foi necessário um mês, uma infecção e 20 quilos a menos para que eu pudesse ver como eu estava destruindo a minha vida. Foi horrível ver todo meu controle escapando pelas minhas mãos, só porque eu não estava sendo o que a televisão, a revista de beleza mostrava. Certa vez ouvi uma frase que dizia que as revistas de beleza só existam para que você se sinta feia e isso é real.
E estando em meio a todos esses distúrbios que eu descobri a minha sexualidade gostando de uma outra menina, a primeira menina que eu gostei - um beijo pra você querida que abriu a minha imaginação - e então dai para frente eu consegui convivendo com um grupo de mulheres que se assumiam e se amavam que eu pude perceber quão forte era essa minha relação com esse desprendimento corporal. Viver essa homossexualidade foi lindo até que eu comecei a me recair e me interessar por alguns homens, alguns poucos e encantadores homens, a partir dai a minha cabeça já era esse circo armado e a palhaçada começou a fazer festa. Depois de deixar minha mente mais leve, eu comecei a ver as minhas possibilidades e depois de ter se relacionado com: Mulheres, homens, transgêneros, assexuados e nenhuma das alternativas anteriores eu pude ver que o mundo é só amor e o amor está onde você menos espera a capacidade de ser e estar do outro lado e sentir-se como outra pessoa te da a compreensão de que nós precisamos mais nos ouvir e quando eu comecei a me ouvir (por isso esse texto está aqui hoje) que eu comecei a reparar que desprender-se desses gêneros, sexos, vestimentas, estéticas só nos faz sermos mais humanos e menos visuais.
Apesar de não ter tanto estudo de base em gênero e feminismo eu começo a mais do que estudar e sim vivenciar diariamente esses pensamentos e eu gosto de compartilhar esse amor e poder viver eles intensamente. Sou a favor da monogamia, mas eu não acho que deva se guardar o amor nem pra si e nem pra mim, eu não guardo meus amores e eu distribuo um pouco de mim para quem quiser recolher-me. Hoje eu sei que meu corpo fora dos padrões é normal, hoje eu entendo que o meu amar não é por gênero ou sexo e sim por gente, por pessoa, por mente. Deixa eu me apaixonar por você?
Confesso.

Um comentário:

Pode ler, pensar. Mas vamos comentar.